Quando José Afonso ouviu os primeiros acordes da sua viola terá dito:
- É ele que vai tocar comigo. É com ele que quero gravar as minhas músicas.
O Zeca tinha regressado a Coimbra. Trazia na bagagem novas canções e uma imensa vontade de dizer algo de novo. Para trás deixava a sua marca no fado, mas conservava os amigos e as suas andarilhanças por uma Coimbra que nunca mais foi a mesma depois da sua passagem.
Em 1962, o país vivia momentos difíceis. Era um tempo de rupturas. A Cidade afirmava-se contra a ditadura, clamando uma urgente vontade de mudança. José Afonso e Adriano Correia de Oliveira estavam na linha da frente de um combate que fez da canção uma arma e um símbolo de esperança e liberdade. Rui Pato tinha 16 anos. E com a sua viola, ajudou-os a dar a volta ao texto.
Mais tarde, a PIDE não o deixou viajar para Londres onde ia gravar o disco "Traz outro amigo também". Como represália pela sua participação na greve estudantil de 1969, confiscaram-lhe o passaporte. Convidado para cantar com Bob Dylan e Joan Baez contra a guerra do Vietnam, Zeca disse que não ía sem ele. E não foi.
Na verdade nunca parou de tocar. Mas há muito que esperávamos por esta noite.
Rui Pato regressa às canções de José Afonso. E "traz um amigo também". António Ataíde que vai cantar com ele e assim realizar um sonho “secreto” de criança, desde muito cedo ouvia o seu ídolo acompanhado pela guitarra mágica de Rui Pato. Esta noite do “retorno” vai ser no Salão Brazil, Coimbra vai ser palco de uma noite de história e de magia. Sexta-feira, 5 de Março de 2010. Eu quero lá estar na primeira fila.
Manuel Alegre Portugal